quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Ano novo, vida nova?

O primeiro dia do ano é especial. É um dia como outro qualquer, sabemos, mas quase todos nós nos deixamos levar por uma excitação maior nesta data. Tudo que gostaríamos de ver mudado em nós, pensamos em começar a transformar neste dia.
Um crente melhor, responsável, participante das atividades da igreja, estudioso, atencioso, zeloso? Seremos, a partir de hoje.
Um pai (ou uma mãe) carinhoso, cuidadoso, amoroso, atento? Seremos, a partir de hoje.
Um empregado melhor, profissional, caprichoso, proativo, agregador? Seremos, a partir de hoje.
Um patrão melhor, justo, respeitoso, generoso, aberto? Seremos, a partir de hoje.
O desejo de melhorar é sempre suplantado pela realidade. Logo voltamos a ser o que éramos ontem.
O primeiro dia do ano, no entanto, pode, sim, ser um estimulante para mudarmos atitudes erradas em nossas vidas. Claro, temos de reconhecer que andamos vacilando em algumas áreas. Identificadas as falhas, por que não aproveitarmos a data redonda para deflagrar a mudança de rumo?
Um exercício prático para esta meditação. Coisinha simples. Anote em uma folha de papel o que você gostaria de mudar em sua vida. Não exagere. Uma ou duas mudanças estão de bom tamanho. Guarde o papel em sua Bíblia. Dá mais solenidade.
É óbvio que você deu início a todo esse processo pedindo orientação e força a Deus. Crente, em tudo o que faz, envolve a Deus.
No final de janeiro (para que esperar um ano, quando você, certamente, já terá esquecido a folhinha dentro da Bíblia), releia o que escreveu e veja como vai indo a mudança de rumo. Sei que o resultado não o satisfará. Ótimo. Crente é inconformado, quer sempre melhorar. Preocupe-se apenas se ficar satisfeito com o resultado.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

CONVENIÊNCIA

1Coríntios 10.23
“’Tudo é permitido’, mas nem tudo convém. ‘Tudo é permitido’, mas nem tudo edifica.”


O cristão pode muita coisa, mas limita-se às convenientes. Muitas pessoas que frequentam igrejas evangélicas, levadas por ensinos estranhos à doutrina cristã, estranham a orientação paulina: “Ninguém deve buscar o seu próprio bem, mas sim o dos outros” (v. 24). Como pode ser isso? Venho à igreja porque preciso de um bom emprego, ter boa saúde e, quem sabe, arranjar um casamento lucrativo. Jesus Cristo nunca afirmou que seriam essas as recompensas do cristão.
O cristão é livre. Tem, no entanto, sua liberdade limitada pela consciência mais frágil de seu semelhante. É desagradável muitas vezes, mas o cristão deve deixar de fazer algo prazeroso e inofensivo, única e exclusivamente por causa do descrente que considerará o ato escandaloso.
A dança foi há algumas décadas motivo de grandes escândalos. Creio que em algumas igrejas ainda cause estranheza, mas entre jovens e adolescentes de igrejas metropolitanas é comum. Paulo diz, no entanto, de forma categórica, que se dançar escandaliza alguém, é conveniente evitarmos bailar.
Dançar, então, é permitido, mas, às vezes, não é conveniente.
Tudo é permitido, mas nem tudo edifica. O cristão maduro entende (e, se não entende, maduro não é) que suas ações precisam acrescentar algo, construir alguma coisa, contribuir para a melhoria da vida de alguém. Ele não usa a liberdade que sabe que tem, frivolamente.
Ao cristão tudo é permitido. Ele, por decisão própria, muitas vezes, pelo outro, prefere não fazer uso de sua liberdade.
Mas como outras questões levantadas pela Bíblia esta também não é simples.

sábado, 25 de dezembro de 2010

As limitações vêm

Eclesiastes 12.1
“Lembre-se do seu Criador nos dias da sua juventude, antes que venham os dias difíceis e se aproximem os anos em que você dirá: ‘Não tenho satisfação neles’”.


Eclesiastes não é livro de fácil interpretação. A Bíblia é para ser examinada livremente por todos os crentes, mas é recomendável a leitura deste livro tendo à disposição alguém dedicado ao estudo da Palavra, que possa iluminar passagens escuras.
Hoje pensaremos apenas no texto de Eclesiastes 12.1. Acredito, firmemente, que o jovem não consegue compreender na totalidade o sentido deste versículo. Aparentemente clara, a mensagem do texto é compreendida apenas por quem já chegou à terceira idade. Ou melhor, percebe cristalinamente o que o autor quis dizer aquele que um dia gozou da plenitude das forças e, hoje, tem severas limitações.
Conheço alguém que, adolescente e crente entusiasmada, mesmo morando a 12km da igreja, todos os domingos ia e voltava a pé à igreja. Entre o Largo do Campinho e a Praça Seca distribuía folhetos evangelísticos pelas casas. Pregava em ar livre, participava ativamente em trabalhos evangelísticos nos presídios da Ilha Grande e Talavera Bruce, dava tempo às crianças e era assídua aluna da EBD. Hoje, ela fica cansada só de pensar no que fazia. Sua ação cristã é outra, mas não exige tanto esforço físico.
Alcançamos a terceira idade, nos dias de hoje, com mais vigor do que nunca. A morte chega cada vez mais tarde. Mas, que ninguém se iluda, as limitações vêm. É bom, então, que o jovem se lembre de Deus nos dias de maior vigor para usar essa força na propagação do Evangelho.
Jogadores gostam de dizer, quando passados dos 30 anos: “Ainda jogo em alto nível”. A maioria está se enganando. Lembremo-nos de nosso Criador enquanto jogamos em alto nível, de verdade. Podemos, já idosos, ser muitíssimo úteis ao Evangelho, mas é gratificante quando fazemos isso no apogeu de nossa vida.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Responsabilidade

Ester 4.14
”...pois, se você ficar calada nesta hora, socorro e livramento surgirão de outra parte para os judeus, mas você e a família do seu pai morrerão. Quem sabe se não foi para um momento como este que você chegou à posição de rainha?”

Um concurso de beleza para escolher uma esposa não é algo que aceitemos nos dias de hoje, mas foi assim que Ester tornou-se rainha, selecionada por Xerxes.
No palácio de Xerxes, no entanto, mandava Hamã. Hamã era vaidosíssimo. Todos se curvavam à sua passagem. Hamã era o cara.
Mardoqueu, pai de criação de Ester, não se prostrava à passagem de Hamã. “Sou judeu”, explicou Mardoqueu a alguns que vieram interpelá-lo sobre o porquê de ele não bajular Hamã. Os bajuladores foram a Hamã e fofocaram: “Mardoqueu não se prostra à sua passagem”. Hamã percebeu que era verdade, se aborreceu, enrolou o rei e saiu da sala do trono com um decreto que marcava dia e hora para o extermínio de todos os judeus do reino.
Chegamos ao texto que encima esta reflexão. Mardoqueu diz a Ester que ela, na posição que ocupava, poderia interceder pelos judeus. O socorro para os judeus viria, Mardoqueu não duvidava, mas Ester precisava compreender que chegara a posição que ocupava para fazer diferença.
“Com os grandes poderes vêm as grandes responsabilidades”, disse o Tio Ben a Peter Parker. Quanto mais podemos, mais responsabilidades temos. Um crente que é governador precisa dar excepcional testemunho, sob pena de arrastar na lama o nome dos cristãos.
É lícito quando oramos pedindo sucesso na carreira. Quem não pede a Deus para ser favorecido em uma promoção profissional? Entendo que devemos pedir tudo a Deus, mas lembremo-nos de pelo menos duas coisas: a resposta de Deus pode não ser a que almejamos e quando é convém atentarmos para a série de deveres que teremos.

Jesus vem!

Atos 4.32a
“Da multidão dos que creram, uma era a mente e um o coração. (...)”

A Igreja vivia um momento especial. Os cristãos criam que Jesus voltaria a qualquer momento. Uma só mente, um só coração. Cuidavam uns dos outros. Não havia, por essa forma de viver, necessitados entre eles. Quem tinha muito repartia com quem tinha pouco.
Hoje, sabemos que Jesus virá repentinamente (1Ts 5.1, 2). Quando? Não nos cabe especular. Precisamos estar preparados para a segunda vinda de Jesus.
Seria bom refletirmos sobre duas questões que este texto levanta.
A primeira está no próprio versículo: os cristãos pensavam e agiam em conformidade com a Palavra de Deus. Esse comportamento é prática em nossos dias?
A segunda, encontramos no contexto em que se insere nosso versículo de hoje: Vivemos atentos à segunda vinda de Jesus? Consideramos, seriamente, que ela pode ocorrer a qualquer instante?
Todos temos de tocar a vida como se fôssemos cumprir toda a carreira aqui na Terra: crianças fofas, adolescentes intrépidos, jovens inconformados, adultos realizados, idosos sábios e salvos afortunados. Nossos planos podem ser logrados com a morte em qualquer fase da vida ou com a segunda vinda de Cristo. Alegre-se, nas duas circunstâncias Deus tem para o crente melhor destino.
É bom que vivamos naturalmente, mas deveria ser natural para o crente considerar que Jesus Cristo, em qualquer tempo, pode voltar.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Saber das coisas

Provérbios 16.16
“É melhor obter sabedoria do que ouro! É melhor obter entendimento do que prata!”


De vez em quando, entram na pauta da mídia reportagens sobre pessoas que ganharam prêmios em loterias, venceram reality shows, embolsaram fortunas e jogaram o muito dinheiro que receberam pela janela.
Jogadores de futebol, saindo da adolescência, conseguem fazer contratos milionários. Um exemplo: Robinho, no Manchester City, da Inglaterra, recebia mensalmente o equivalente a R$ 1 milhão e 500 mil por mês (hoje, coitado, ganha um pouquinho menos no Milan). Mesmo atletas irresponsáveis têm dificuldade de dilapidar o exagero de dinheiro que ganham.
Em contrapartida, há aqueles que administram o dinheiro que recebem com inteligência e generosidade.
Sabedoria é melhor do que ouro. O ouro acaba e pode ser muito mal usado. A sabedoria é útil para quem a possui e fundamental para os que cercam o sábio.
Sabedoria não é a mesma coisa que cultura acadêmica. A sabedoria é dom de Deus. Há pessoas sem cultura formal, donas de enorme sabedoria. Em muitas culturas há respeito e consideração pelos mais idosos. Ser idoso não é o mesmo que ser sábio, mas a experiência de vida, inegavelmente, acrescenta saber.
No ambiente de trabalho, quase sempre há dois tipos de crente: o caricato, aquele que se orgulha de ser um presepeiro cristão; e o sóbrio, o que tem sempre algo a dizer e é ouvido porque não há discrepância entre o que diz e o que faz. O primeiro tipo afasta as pessoas, o segundo semeia o Evangelho.
Sabedoria e entendimento são as riquezas que devem ser almejadas pelos crentes. Se as temos somos privilegiados.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Amor & ódio

Mateus 5.44
“Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem.”

Há ordens de Jesus, explícitas, que eu estou longe de conseguir cumprir. Essa aí de cima é uma delas. Mais fácil atender ao que diz o versículo 43: “Ame o seu próximo e odeie seu inimigo”. Amar o inimigo? Não conseguimos gostar de desafetos. São intoleráveis pessoas que nos prejudicam. Amá-las? Francamente, quem consegue? Eu, não.
O versículo pode ser interpretado de uma forma que suavize nossa desobediência? Não. Ele é claríssimo. Jesus ainda diz: “Gostar de quem gosta de você é mole”. Eu oro sempre pela minha colega de trabalho, a Thalittinha, mas ela é um doce. Orar por uns chefes que tive na vida é outra conversa.
Mas Jesus quer que façamos isso: amar quem nos odeia, orar por quem deseja nosso mal. Luto para obedecer e confesso que muitas vezes orei por gente que gosto de ver bem longe de mim.
Jesus dirige-se a seres humanos. O que pede é possível, portanto. Jesus conhece o ser humano profundamente e, se o que ele quer é que nos voltemos para aqueles que querem nos prejudicar, alguma razão há. Por nos conhecer, Jesus entende que não gostamos de todas as pessoas com a mesma intensidade. De uns gostamos mais, de outros, menos. Entendo (e posso estar entendendo erradamente) que Jesus não quer nos ver abandonando relacionamentos prazerosos e empenhando-nos em amizades forçadas, mas ele quer que nos envolvamos com quem nos odeia e persegue.
É um treinamento, uma meta a ser alcançada e as ordens claras de Jesus estão na Bíblia para serem obedecidas.
Um dia obedecerei.

domingo, 12 de dezembro de 2010

O tolo

Provérbios 14.7
“Mantenha-se longe do tolo, pois você não achará conhecimento no que ele falar.”

Não se trata de ser preconceituoso, mas há pessoas que são vertedouro de bobagens. Não só falam como fazem besteiras. É gente inconveniente, que não aceita ouvir o que outros têm a lhe dizer. Uma das características do tolo é a presunção. Tolo e presunçoso são uma coisa só.
Na grande mobilização policial que invadiu o Complexo do Alemão, um jovem foi preso. Tentava escapar de forma despercebida. O policial o deteve e lhe pediu que tirasse a camisa. Nos braços, uma tatuagem tosca: “Fernandinho Beira-Mar”. Um tolo por marcar o corpo com o nome de um marginal, um idiota por achar que escaparia com tão reveladora marca no corpo.
Se o tolo fosse facilmente reconhecido, não seria um grande problema. Muitas vezes, no entanto, não é. O tolo traveste-se com variados disfarces. Tem tolo que até parece sábio. E com seus ralos conhecimentos convence incautos, ingênuos, gente com inclinação para a tolice, mas que tolos ainda não são.
Mantenha-se longe do tolo, você nada aprenderá com ele e nada lhe conseguirá ensinar.
E creia no clichê: "Tempo é ouro". Não o gaste com inúteis.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

TODO MUNDO VACILA

Em um ou outro momento, vacilamos. Claro que quando vacilamos com alguém não somos tão duros como quando vacilam conosco. É a regra. Quase sempre nós, humanos, nos achamos muito mais do que somos.
O apóstolo Paulo se achava. Antes de se converter no caminho de Damasco, era zeloso (furioso, também) perseguidor de cristãos. Consentiu na morte de Estêvão (At 8.1a). Barbarizou Jerusalém.
“Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere” (At 8.3).
William Barclay, comentarista das Escrituras, afirma que “A palavra utilizada no grego (traduzida por assolar – NdaR) denota uma crueldade brutal e sádica. Aplica-se a um javali que destroça um vinhedo onde entra e a uma fera sanguinária que se atira a uma presa”.
Paulo empenhava-se em tudo o que fazia. Assim como foi implacável perseguidor dos cristãos, convertido, ninguém se desdobrou com tanto entusiasmo para proclamar o Evangelho.
No começo, os líderes cristãos em Damasco ficaram desconfiados com o antigo algoz. Os judeus, por sua vez, percebendo que Paulo já não estava mais com eles, resolveram dar um fim no antigo aliado. Dentro de um cesto, Paulo caiu fora de Damasco, auxiliado por discípulos. Chegou a Jerusalém e, novamente, enfrentou a desconfiança dos cristãos. Não estavam errados, Paulo aprontara demais.
“Mas Barnabé, tomando-o consigo, levou-o aos apóstolos; e contou-lhes como ele vira o Senhor no caminho, e que este lhe falara, e como em Damasco pregara ousadamente em nome de Jesus” (At 9.27).
Barnabé e Paulo eram grandes servos de Deus. Tinham qualidades e defeitos. Paulo era ardoroso, impulsivo, não aceitava bem a quebra de compromissos. Vamos lá: não aturava vacilões.
Barnabé era humilde, amoroso, compreensivo. Entendia que homens e mulheres erravam. Sabia que todo mundo, uma vez ou outra, vacilava.

JOÃO MARCOS, O VACILÃO
João Marcos era de família cristã. Como lemos em Atos 12.12, a igreja de Jerusalém se reunia em sua casa. Não há por que duvidar de seu caráter. Parece que era cristão sincero e trabalhador. Se assim não fosse, Barnabé e Paulo não o teriam levado em dura viagem (At 12.25).
O capítulo 13 de Atos encontra Barnabé liderando o grupo de cristãos na viagem missionária que empreendiam por ordem do Espírito Santo. Depois do episódio com Elimas, o falso profeta que procurou se assegurar dos favores de Sergio Paulo, governador na Ilha de Chipre (At 13.4-12), Paulo passa a liderar o grupo.
Barnabé não demonstra aborrecimento com o fato. João Marcos, no entanto, resolve voltar a Jerusalém. O motivo para sua decisão jamais se saberá. Os comentaristas especulam:
• Voltou porque o primo Barnabé perdeu o comando. Tomou as dores do primo que tinha mais tempo de serviço do que Paulo. Aliás, enquanto Barnabé evangelizava, Paulo aterrorizava. Barnabé até fiador de Paulo foi. E já naquela época esse negócio de ser fiador era furada.
• Voltou porque percebeu que a viagem seria mais dura do que imaginava. Era garoto, tinha muita coisa para fazer. A vida se descortinava à sua frente. Será que aquela menina iria esperar que voltasse? Dava para ficar dirigindo os cultos e evangelizando na vizinhança.
• Voltou porque, de repente, sentiu a maior saudade da mamãe, dos amigos, da namoradinha. Paulo era chato demais, cheio de exigências. Não pode isso, não pode aquilo. Voltou mesmo, e daí?
• Voltou porque era adolescente e, afinal, quem sabe o que se passa na cabeça de um adolescente?
Paulo anotou o vacilo em seu caderninho e mais tarde cobrou.

NEM TODO MUNDO DÁ CHANCE PRO VACILÃO
A viagem foi dura, mas houve bons momentos. Paulo, pregando em Antioquia, arrebentou. Começou o sermão cheio de moral: “Varões israelitas e vós outros que também temeis a Deus, ouvi” (At 13.16). Isso depois de levantar-se e, com a mão, pedir silêncio. O povo gostou tanto do que ouviu que pediu que voltassem no sábado seguinte. Mensagem boa prescinde de marketing vazio. Um sábado depois, “afluiu quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus” (At 13.44).
Sucesso gera inveja. Alguns judeus se impressionaram com Paulo, a maioria, no entanto, se sentiu incomodada com a mobilização gerada pelos cristãos. Paulo foi interpelado enquanto falava ao povo. Os que o interpelaram blasfemaram e puseram em dúvida o que o apóstolo dizia. Em resumo: tumultuaram o ambiente. Tanto incomodaram que Paulo e Barnabé, intrepidamente, disseram: “Era necessário anunciar primeiro a vocês a palavra de Deus; uma vez que a rejeitam e não se julgam dignos da vida eterna, agora nos voltamos para os gentios. Pois assim o Senhor nos ordenou: ‘Eu fiz de você luz para os gentios, para que você leve a salvação até aos confins da terra” (At 13.46,47).
A partir daí, Paulo lança-se à pregação do Evangelho aos não-judeus, mas esta é outra história. Voltemos a João Marcos.
Em Icônio, a mensagem do Evangelho pregada por Paulo e Barnabé causou inquietação. Uns creram, outros não. Judeus e gentios que não creram partiram para a ignorância. Paulo e Barnabé, para sobreviverem, fugiram para Listra e depois, Derbe. Em Listra foram confundidos com deuses e Paulo quase foi morto. No seguimento da viagem, fizeram muitos discípulos e ainda fortaleceram, no retorno, aqueles que haviam aceitado o Evangelho quando passaram por ali um tempo antes.
Depois de discutirem e avaliarem tudo o que rolou na viagem, Paulo e Barnabé, que haviam, inclusive, participado do Concílio em Jerusalém (leia todo o capítulo 15 de Atos para ficar esperto), resolveram que seria interessante darem uma checada no trabalho feito. É Paulo quem dá o toque em Barnabé: “Voltemos para visitar os irmãos em todas as cidades onde pregamos a palavra do Senhor, para ver como estão indo” (At 15.36).
Barnabé sugere, então, o nome de João Marcos. Paulo esperneou. O vacilão, não.
Que ninguém se atreva a acusar Barnabé de nepotismo. Ele não queria João Marcos com eles por serem parentes. Lembremo-nos que Barnabé acreditou na conversão de Paulo quando a maioria dos cristãos queria de Paulo manter distância segura. Barnabé acreditava nas pessoas. Sabia que até vacilões se redimem.
O desentendimento foi tão sério que Barnabé e Paulo não viajaram mais juntos (At 15.36-41). Barnabé levou João Marcos para Chipre. Paulo foi para a Síria com Silas.

A VOLTA POR CIMA
Depois do vacilo de João Marcos com Paulo, não se sabe muito bem o que o primo de Barnabé andou fazendo. A tradição diz que ele foi para o Egito e lá fundou uma igreja. Isso, no entanto, é especulação. Sabe-se, de fato, que João Marcos deu a volta por cima. Ou, como registra o comentarista William Barclay: “redimiu-se a si mesmo”.
É Paulo quem diz em Colossenses 4.10: “Aristarco, meu companheiro de prisão, envia-lhes saudações, bem como Marcos, primo de Barnabé. Vocês receberam instruções a respeito de Marcos, e se ele for visitá-los, recebam-no”.
Paulo era um grande homem. Exaltou-se com a pusilanimidade de João Marcos (em português tosco, frouxidão), não aceitou trabalhar com ele em um momento que julgou não ser bom, mas teve a grandeza de reconhecer que o vacilão do passado foi deixado para trás pelo garoto que se tornou um grande servo de Deus. Se não fosse assim, Paulo não o recomendaria.
Paulo fez bem mais do que isso. Em Colossenses 4.11, cita alguns de seus colaboradores, João Marcos entre eles. “Esses são os únicos da circuncisão que são meus cooperadores em favor do Reino de Deus. Eles têm sido uma fonte de ânimo para mim.”
João Marcos, antes um cara em quem não se dava para confiar, agora, fonte de ânimo. Se um dia ouvisse um elogio desses, eu chegaria às lágrimas.
João Marcos aproveitou tão bem a lição que a vida lhe ensinara que se transformou em fonte de ânimo. Alguém que ajuda o próximo a erguer-se. Um servo de Deus disposto a apoiar quem precisa.
Em 2Timóteo 4.11, Paulo refere-se novamente a João Marcos: “Só Lucas está comigo. Traga Marcos com você, porque ele me é útil para o ministério.”
Paulo está no fim da vida, cansado, e o homem que ele quer junto a Timóteo é João Marcos. Acompanhemos William Barclay: “Quando o fim está perto, o homem que Paulo quer junto a seu amado Timóteo é Marcos, porque era uma pessoa útil. Marcos, o desertor, se convertera em Marcos o homem pronto para qualquer serviço”.
Nenhum homem precisa continuar a ser o que é. Este é um título de sermão de E. Fosdick. João Marcos era fraco, tornou-se fonte de ânimo, homem útil, crente pronto para qualquer serviço por Jesus Cristo. Deixou a fraqueza para trás.

CONCLUSÃO
Há pessoas que erram, persistem no erro e parecem mesmo incorrigíveis. Um grande número delas, no entanto, só precisa de apoio. É muito mais comum agirmos como Paulo do que como agiu Barnabé. A favor de Paulo, o reconhecimento posterior das qualidades de João Marcos. Nós, provavelmente, nem isso faríamos.
Barnabé estava pronto para apoiar. João Marcos deu a volta por cima, se tornou um cristão altamente produtivo e, segundo alguns comentaristas, é ele o Marcos autor do Evangelho das páginas do Novo Testamento.
O texto não apresenta “vilões”.
Paulo é notável quando reconhece seu erro e volta a ter Marcos como precioso colaborador.
Barnabé apresenta a característica fundamental do cristão: disposição para apoiar.
João Marcos tem um momento de fraqueza, mas redime-se e demonstra que sempre é possível mudar.
Três exemplos que deveríamos nos esforçar por seguir.

(Texto baseado em sermão magistralmente pregado por Jerry Stanley Key, em um dia qualquer de 1981.)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Mulheres e homens: iguais nas diferenças


Até o final da década de 20 do século passado, mulher não votava. Quase 100 anos depois, o Brasil pode ter uma presidente do sexo feminino, a ministra Dilma Roussef.
Não cabe neste espaço detalhar a trajetória da mulher aqui no Brasil, mas recordemos que na entrada do século passado ainda eram comuns os casamentos arranjados. A mulher não escolhia seu marido.
Mulheres não trabalhavam fora e aquelas que o faziam, ali pelas décadas de 50, 60, não eram bem vistas pela “sociedade”. A mulher séria laborava no lar, para marido e filhos.
Era incomum mulheres em posição de mando dentro de empresas. Quando acontecia, o preconceito sexista falava alto e grosso e atribuía a conquista feminina a algum envolvimento romântico com alguém poderoso.
A mulher não podia ter carreira profissional regular porque era dela somente a atribuição de cuidar da casa e dos filhos. O marido chegava cansado do trabalho e só almejava descansar e ser bajulado.
A década de 60 chegou. Com ela, o feminismo. As mulheres queriam viver plenamente. Nada mais foi como antes. Muita bobagem foi feita. Houve exageros. Voltar ao que era, no entanto, é impossível.
Homens e mulheres ficavam casados a vida toda. Era isso ou suportar o estigma de desquitado. O divórcio, hoje, é realidade. Comum, inclusive, entre crentes. Sempre doloroso, principalmente quando há filhos, tem sido cada vez mais a saída de casamentos sofridos. Sempre acharei mais saudável duas pessoas que não se suportam mais seguirem caminhos diferentes.
Mulheres, hoje, têm suas carreiras profissionais. Grandes empresas multinacionais são conduzidas por mulheres. Mulheres governam países. O casamento não é como era. O homem não é mais o único provedor. Há algum tempo, era comum ouvirmos de alguns homens mais “moderninhos”: “O salário de minha mulher é pra ela comprar as coisas dela. As contas quem paga sou eu”. Esse tempo acabou.
Casais dividem despesas e trabalho. No lar, trabalham os dois. As creches não provocam mais sentimento de culpa nas mulheres. É cada vez mais usual mulheres deixarem para ter filhos depois dos 30 anos, com a vida profissional consolidada.
Este é o século 21 nas grandes metrópoles. Não há sentido em se falar, hoje, em submissão, como muitos ainda defendem a partir de leitura literalista do texto bíblico.
A palavra está mais do que desgastada, mas não há outra: a mensagem bíblica precisa ser contextualizada. Aliás, nunca entendi porque contextualizamos algumas passagens bíblicas e outras, não. Mulheres falam em igrejas (menos naquelas comunidades mais obscurantistas) e há proibição na Bíblia quanto a este ato (1Co 14.33-35). Os intérpretes são quase unânimes em descartar a interpretação literal, no que fazem muito bem. Essa deveria ser a regra.
Mulheres e homens são parceiros. O casamento para se sustentar depende de investimento e disposição do casal. Muito pouca gente mantém-se dentro do matrimônio para dar satisfação a terceiros. Casais permanecem casados quando há amor, respeito, preocupação mútua com o bem-estar e amizade.
As mulheres conquistaram tudo o que havia para ser conquistado. Homens e mulheres são iguais, apesar das gritantes diferenças. E é muito bom que assim seja.