sexta-feira, 4 de março de 2011

SAUDADE DA JUERP

No final da década de 80, saí da Bloch Editores e fui trabalhar na JUERP. O começo foi duro. Aturar um Josemala garante lugar no céu para o mais cruel pecador. Cheguei a considerar a ideia de assassiná-lo, mas o desconforto da vida na prisão me fez adotar o caminho da tolerância.
A morte de um bom companheiro me permitiu mudar de setor e, livre do parasita, pude, enfim, desfrutar das alegrias de trabalhar em uma empresa que nos permitia produzir sem pressões idiotas.
O novo chefe, Josué Ebenezer, era (e é) figura rara. Lembro-me dele e não me vejo com um Colt 45 fumegante nas mãos.
Mas o que me faz lembrar a JUERP com saudades não são os chefes. Os colegas é que eram preciosos. Jamais encontrei gente de melhor qualidade.
Tive o azar de trabalhar em outras empresas evangélicas e os colegas que encontrei, a depender da vontade do líder, eram artistas da bajulação e deduragem. Essa escória entendia ser bom comportamento profissional levar para o feitor tudo o que acontecia entre a patuleia.
Entre os batistas, sempre ouvi que a JUERP era um reduto de marajás. Ninguém fazia nada e todos ganhavam uma fortuna. Talvez houvesse alguns nessas condições, não era o caso de 90% dos que gramavam por lá.
O fim da JUERP, no meu entendimento, representou um duríssimo golpe na denominação batista. Há um espectro por aí com nome de JUERP, mas não é a velha Casa Publicadora.
A redação da JUERP funcionava com profissionalismo (Trabalhei no Jornal do Brasil dos bons tempos e na Manchete. Sei, portanto, o que digo.) Havia uma equipe que se via todos os dias, trocava informações e realizava trabalho planejado. A equipe da redação gerenciava vasta rede de colaboradores. Tudo muito longe do amadorismo de hoje.
O batista carioca (e só falo da realidade que conheço) pode escolher ao acaso 50 igrejas e visitá-las no horário da EBD. Não encontrará cinco usando o material da JUERP. Reclamávamos do que a Velha JUERP produzia, mas se compararmos com o que o fantasma põe no mercado...
Acredito (e aí haveria necessidade de estudo feito por gente mais qualificada do que eu) que a onda de apóstolos, patriarcas, paistor, primícias e outras bobagens que vão dominando igrejas batistas tradicionais está diretamente ligada à morte da JUERP.
Eu sinto saudades da JUERP. Lá atrás, a solução era simples. Bastava demitir os ineficientes; contratar um editor profissional com visão de mercado; esquecer mel, capelas e móveis; gerenciar as lojas com seriedade (quem ficou com elas não perdeu dinheiro) e, se isso tivesse acontecido, talvez fôssemos uma denominação um pouco mais pujante.

Um comentário:

  1. Oi, amigo, obrigado pela homenagem. Você é "o cara". Um homem inteligente, sempre com a pitada adequada de fina ironia que gratifica a conversa, orna o texto. Tudo ao sabor da inteligência acima da média... O que você escreve neste texto, ao tempo que historia um momento dos mais auspiciosos da minha vida (QUE SAUDADES!) reflete uma verdade incontestável: as coisas não eram pra ser assim, poderiam ter sido diferentes; mas os homens do poder não estão preocupados com a Obra, mas com o Status. Valeu. Fica com Deus e vamos tocando a vida. Abraços!

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